Segunda-feira, 19 de Julho de 2010

...

 

 

 

Durante aquele ano,

nao consegui escrever sobre nada nem ninguém.

Não tinha o descanso imaginário necessário,

mas ainda consegui escrever sobre ti.

Os primeiros poemas forcei um pouco, os outros surgiram com puro amor. Puro amor bruto.

*

É a última vez que escrevo poemas assim, que os dou e que os mostro,

é a última vez que dou o coração e que mostro a alma.

Vou resguardá-los,

e guardar só para mim

o pouquinho que já sobra deles.

 

19-07-2010

Catarina


publicado por Strelitzia5 às 19:42
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Quinta-feira, 19 de Novembro de 2009

"Neumond"

 

Depois de percorrida e desbravada a floresta,
etérea e maravilhosa,
com os rostos gélidos da manhã fresca
com os corações acelerados da corrida
depois, parámos num abrigo de pedra para descansar.
Saltavas de pedra em pedra, mostrando os teus dotes de agilidade e gracejavas da minha inaptidão.
Atiravas-me com pequenas pedrinhas, como crianças pequenas, numa guerra carinhosa pela minha atenção.
Depois deitaste-te ao sol. Algo me incitou a deitar-me também.
Conversávamos ninharias. Queixávamo-nos do frio e das nuvens que tapavam o sol que nos aquecia.
Até que tocávamos nas barrigas um do outro, em jeitos de brincadeira, e outras demais travessuras.
Começas a acariciar-me o tecido das calças com as pontas dos dedos.
Estamos em absoluto silêncio.
Pegas-me na mão - massajas-ma e desenhas os contornos das linhas.
Depois eu peço-te que estiques o braço por baixo do meu pescoço, e assim fico, poisada no teu peito, encostada a ti, aconchegada em ti.
Tu agarras-me, apertas-me contra ti, ora afagando-me a testa e os cabelos, ora acariciando-me o braço.
Eu repousava-o sobre o teu peito e tocava nele, na tua barriga, no teu pescoço, no teu rosto.
Assim ficámos, num silêncio absoluto, de puro encantamento e cumplicidade, por tempo infinito.
Foi a primeira vez que nos tocámos, a sério.
Em que baixámos a guarda e as defesas, e passo a passo, pondo de lado os receios, nos decidimos confessar.
Mas sem qualquer palavra, apenas através destes gestos silenciosos, que há muito anseavam explodir.
Beijaste-me o pescoço e eu viro-me mais para ti, e beijas-me a cara, e depois... beijamo-nos. Por fim.
Nos teus beijos, as tuas mãos agarravam as minhas, tocavam-me no rosto, afastavam-me o cabelo.
Os teus olhos abertos mostravam carinho. Os teus olhos fechados, pura entrega.
Abraçaste-me muito.
Quando démos as mãos pela primeira vez, ergueste-a à altura dos teus lábios e beijaste-a.
Assim como a seguir te deixei colado ao ombro um terno beijo.
Nos meus olhos perdura a imagem da Natureza que nos envolvia e agraciava.
Na minha pele perdura o teu cheiro penetrante.
Em mim, perdura o que me fizeste sentir e toda esta poesia, adormecidas em mim.
E ainda ecoam nos meus ouvidos, as tuas palavras:
"Por onde é que tu andavas?... O sol, claro!"

 

07/11/09

música: "Love In Time" - Esperanza Spalding

publicado por Strelitzia5 às 12:54
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Quinta-feira, 29 de Outubro de 2009

"Lost"

 

A vida é amargamente volátil por vezes.
Em tempos surgiram duas das pessoas de quem mais gostei e a quem mais me dediquei. As duas que no fim acabaram por despedaçar em bocados um coração que parece imune, frio e inquebrável, porque parece que ainda estou aqui e sobrevivo. Talvez já não sinta a dor, de tão insuportável que se tornou. Como viver com estes fantasmas? Olhando sempre em frente e vivendo o dia seguinte...
Aquela amiga, como uma irmã, meia década das memórias mais bonitas e doces. Mas como eu temia que a tua fraqueza de espírito se pudesse um dia revoltar contra mim. Vazia de personalidade, oca de mente, deixaste vender-te ao mundo das aparências e ilusões, pensando que assim camuflas uma falta de brilho natural e uma terrível inexperiência da vida, que te mimou, acriançou, infantilizou. Como passas da pessoa mais bondosa e compreensiva, para a pessoa mais crítica e intolerante? Como passas da simplicidade singela para a pose forçada? Porque me invejas, porque me atinges e apunhalas com tanto prazer e rancor?
Serei mesmo eu? Eu que vejo surgir à minha volta mais e mais pessoas e carinho, e tu que afastas todos os que tanto te admiraram... Será que não vês a realidade? Estarás tão cega nesse teu mundinho pré-fabricado, recheado de novos valores podres, em que os teus grandes sonhos de outrora pelos quais deixaste de lutar, foram substituídos pela inércia dos dias, a inutilidade dos objectivos, a alcovitaria e a maldade...
És puro veneno que banha agora a lâmina com que trespassas todos os baluartes da minha fé e da minha força. Desventuraste todas as minhas crenças e sólidas concepções sobre a vida, as pessoas, a amizade.
Sei agora que se puser a mão no fogo, o mais certo é um dia queimar-me.
Tenho quem me preencha e faça suprir a tua falta. Mas pergunto-me... Era de ti e isto ia inevitavelmente um dia acontecer, ou será que neste mundo só podemos mesmo confiar em nós próprios?
Será que aquilo que pensamos ser sustentável, garantido como abrigo e refúgio, pode escorregar pelos nossos dedos como areia, ao nosso total descontrolo e impotência?

 

E tu, outro...
Aquela história perfeita do príncipe encantado. Encomendado desde sempre, mas em receita estragada que veio, tornou-se um belo sapo...
Sobre ti já tanto foi dito, pensado e escrito. E tu sabes. E tu leste.
Mas pior que um amor que não pudeste ou não quiseste dar, foi a amizade que fingiste ter por mim, o prémio de consolação que disseste estar pelo menos assegurado, a ilusão do respeito e admiração que me tinhas...
É bem possível que me tenhas conhecido como poucos me conhecem, e também que te provocasse interesse e fascínio. Mas será que isso se traduziu num real e genuíno valor? Parece que não...
Fizeste coisas que um amigo não faria - no duplo sentido de que serias mais que amigo ou até de amigo em si muito fraco. Tão confusa e desgastante foi a realidade que se instaurou entre nós... Tanto mal que me fizeste, tanto que revolucionaste e desgraçaste os meus destinos, tanto que me transformaste.
Toda aquela minha alegria de viver permanece em mim, mas deixei de ver o mundo, as pessoas, os homens a não ser com extrema desconfiança e descrença num futuro prometedor.

 

É a primeira vez que consigo desabafar o que fosse perante estas duas perdas.
Tive que pensar na integridade do meu ser e cortar as densas raízes destas árvores lendárias. Os ramos que mais tentei cuidar e frutificar... mas a estação da vida mudou. Talvez um novo ciclo. Agora agem como se tivesse morrido, sou um fantasma...
Atravesso continuamente vidas tão desligadas e desfasadas. Reencarno multiplamente numa vida que devia ser una.
Poderia dizer que eu não sofro estas metamorfoses e o meu espírito mantém-se intacto e é o mesmo desde sempre. Será? Acho que me perdi pelo caminho.
É como se ao religioso fanático tivesse sido dada revelação superior de que afinal o seu Deus não existe. É como se tudo aquilo em que acreditava e tudo aquilo em que apoiava os alicerces da minha vida e felicidade houvessem desmoronado, sem hipótese de reparo.
Perco a fé sólida em tudo o que me rodeia.
Já eu própria me transcendo.
A dor lateja incessantemente. A dor é lacinante. Arde-me cada entranha, mas eu continuo a sorrir.

 

Será que quando te toco, a ti, e a ti, vos toco mesmo? Sentem-me?
Ou estamos todos fatalmente separados uns dos outros, e qualquer ligação é tão-só impossível?

 

O que somos uns para os outros e o que fazemos aqui?

 

26-Out-2009

sinto-me: ....

publicado por Strelitzia5 às 00:33
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Sábado, 27 de Junho de 2009

"jogos de desencontro".

 

 

 Aperto doloroso cá dentro

o meu coração contraído

um frio desolador que me paralisa

a circulação do pulsar tranquilo

a falta de um caloroso aconchego

o medo

a inquietude

a adrenalina

    das pequenas vitórias

ou a rendição

   perante a sucessão repetida

   das mesmas derrotas

o fracasso e o sucesso

sobre um tabuleiro de xadrez

numa inércia angustiante sobre

o controlo das peças

vidas, personagens...

Desencontros.

Enquanto eu te venero no silêncio

de uma torre longíqua no canto do mundo

pequena, minúscula, indefesa

numa masmorra desta cruel esperança

acorrentada neste pranto desalmado

enquanto tu, rei, procuras rainha de coroa perdida

fazes o cheque-mate à vida e mexes-te uma casa apenas,

um passo de cada vez, aterrorizado de saltos gigantes

enquanto eu e ele cruzamos todo este palco,

destemidos e temerários, mas eu rainha caminho desta vez

em diagonal,

como o bispo solitário, e desencontro-me dele...

Jogos de desencontro.

Careço em nostalgia de me sentir mais concretizada,

mais completa, menos só e desamparada...

Às vezes tudo isto magoa e o mundo é cruel.

Não perdoa, não reconhece, não valoriza.

Às vezes a sorte esquece-se da companhia prometida.

Quando o sol descansa e a luz se apaga

onde mais encontrar forças?

Haverá sustento na tua sombra?

No calor escasso que deixaste do dia que passou...

Será o suficiente? Estarei a viver ou a sobreviver?

Valerá tudo isto a pena ou será em vão?

Como posso saber... estes mistérios desesperantes...

Somos meros peões neste torneio de xadrez.

Apenas tendo permissão para caminhar em frente,

não podemos retroceder, o tempo não volta atrás e

o tempo não espera por nós.. Damos pequeníssimos passos

incertos e cautelosos, aproximando-nos inevitavelmente dos

perigos, pois parados não podemos ficar, é necessário um dia

abandonar o conforto e o calor. Temos que arriscar e dar-nos

à vida. Onde vamos parar? Uns encontram o sossego e não são

incomodados. Outros perdem-se algures no tempo para sempre.

Ou talvez se transformem. Talvez se libertem, montando selvaticamente

um cavalo enfurecido e criando um mundo paralelo à banalidade das coisas.

Será que no fim da demanda, se erguem frente a frente, rei e rainha, e esta encurrala-o? Ou será que o rei apenas consegue viver com um reflexo de si próprio?

Conseguirá olhar-se no espelho quando se vir sozinho com todos à sua volta

caídos e estendidos no chão?

Eu prefiro partilhar a dor destas vidas todas acumuladas, cavar com alguém

até às profundezas do submundo. Eu preciso de uma claridade e de um calorzinho.

Pode não ser o certo. Mas que hei-de fazer se é quem me dá um apertozinho no coração e me aquece o corpo?

sinto-me:
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publicado por Strelitzia5 às 13:55
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Sábado, 6 de Junho de 2009

"Renaissance"

 

 

escondo-me de ti para não me ferires
não posso ver-te para não sangrar
este amor que te tenho é uma doce miséria

 

eu tenho a alma ansiosa de flamejar em chama
eu ofereço as minhas mãos ao fogo
para sentir o ardor a que tudo me compela

 

só não posso estar quieta e parada
a sentir o desperdício dos dias

 

por isso eu lanço-me às feras
pois mais vale sentir de mais que não sentir

 

e se eu me arrependesse depois?
eu não posso deixar de esperar, não posso deixar
de querer e desejar
sempre mais e sempre o impossível

 

não sei viver sem acreditar
e sem continuar a sonhar

 

eu tenho mil histórias para contar
e uma vida inteira para escrever

 

eu dou-te o meu coração de bandeja
decorado com toda a carência do amor que nunca encontrei

 

não me peças, ó vida, que não finja por vezes, para sobreviver
pois se não me camuflar, morro sem poder então viver

 

temo que sejas o meu príncipe das trevas
eterno, imortal
dolorosamente belo
olhar para ti dói em cada músculo contraído do meu corpo
e corta cada sopro
cada pulsar

 

triste fado o dia que te conheci
estava em escuridão calma e sossegada
após breve descanso e crença no vazio

 

quando me trespassaste as entranhas com promessas de luz...

 

um pacto com o diabo eu faria,
para não te saber,
para não conhecer o teu rosto
para voltar a ser quem era, antes de ti.

 

 

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publicado por Strelitzia5 às 19:14
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Domingo, 15 de Março de 2009

"Todos os títulos"

 

Acordar e rebolar-me na cama vezes sem conta

num estado de moleza em que procuro a posição

mais confortável do momento.

Mas a luz que incomoda este repouso e invade a sonolência,

urge para que me erga deste sepulcro de sonhos.

Saio de casa, após a correria matinal habitual das tarefas mundanas e privadas, já com algo no estômago para suster o início da demanda do dia.

À espera do autocarro a que rogo pragas se demora 1 ou mais minutos que fazem a diferença crucial de apanhar ou não o comboio a horas e chegar a horas àquele meu grande destino de todos os dias.

Os dias estão tão bonitos e solarengos... a Primavera tem qualquer coisa. Sinto um calor aconchegado na pele que sussurra aromas... Ponho-me a ouvir uma musiquinha de fundo das minhas aventuras, a banda sonora das minhas histórias e memórias. Cada som evoca uma imagem, uma roupa especial, um novo perfume ou outras músicas ainda. Um qualquer momento.

Estou na estação - ah!, estou a alcançar a plataforma e vem mesmo o comboio que serve ao meu destino. Não tenho que correr atrás dele e estou pacífica no meu mundo. O comboio que passou antes é o dos passeios de Domingo por ruas velhas e lendárias, com o coração oferecido ao desabrigo.

Mas não é para onde vou agora. Um dever futuro chama a ainda precoce sabedoria que vou construindo.

Finalmente, Lisboa, aura académica.

No telemóvel constam as mensagens dos meus e dos que me são. Uns conversas de sempre sem retorno, outros apenas para se divertirem às minhas custas, e outros que se encontram em uníssono no convívio do costume das horas mortas depois do combinado.

E quando o espírito está preguiçoso, também as horas vivas de suposta sabedoria são substituídas por um café, um chá ou uma merenda.

Uma festa nocturna que me devolve o ânimo, em que celebro a maturação de um percurso, em que vivo o segundo após segundo de especulações e ambições de criança. A célebre conquista de deter o meu mundo nas minhas mãos e escolher mudar a meu bel-prazer tudo o que quiser. Viver a vida que a cada compasso me aprouver.

Rir muito com eles. Sorrir para os outros todos a que não digo um olá. Não os conheço, mas sei-os.

Eu sei todos os que aqui estão, os que me são e os que ainda me não serão, porque todos nós temos uma essência que eu captei desde o primeiríssimo poema. Mas como gosto de me surpreender e estar sempre a aprofundar o que conheço!...

Mas gosto de olhar para ti, para ele, para nós, vós e eles, e saber o que te vai no coração. Gosto de saber tudo isto e esta gente.

É por isso que sorrio agora e sempre. Porque não temo o que não (des)conheço. Sei que não vale a pena recear, adiar, sofrer... Basta um pouquito de fôlego e cara fresca para enfrentar o que se nos depara.

Cada minuciosa inutilidade singela do que absorves enquanto aqui estás e respiras, faz-te tudo o que és e serás.

Será que te consigo fazer sentir o que estou a divagar?

E no regresso, talvez um livro para me afundar noutro naufrágio ficcioso de vidas paralelas.

E já neste lar, uma conversa sobre a vida com quem me deu a vida ou com quem é metade ou mesmo o todo de mim.

Mais logo, na companhia desta lua branca de luz vaga e difusa, quem sabe, um chá com mel e um poema doce e tosco, sem grande propósito. Só para não escrever sobre o concretamente abstracto danado do amor.

Mas diz-me lá, se tudo não é amor, seja de que forma ele for?

É o ingrediente filosofal nesta divina combustão.

 

14/03/09

01h00

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publicado por Strelitzia5 às 20:26
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Sexta-feira, 6 de Março de 2009

"Amore in Abstracto" - um poema simples.

 

 

Quero um poema simples.

Porque não me apetece enveredar por grandes filosofias profundas e abstractas.

Mas ainda assim porque me apetece escrever

E porque estou à espera que o chá arrefeça

Um poema simples....

isto é sempre uma grande incógnita nunca planeada para mim. Sei lá o que vai sair disto.

Mais sincera não posso ser.

Mas talvez, um poema simples, em que fale da simplicidade em que me sinto... e da simplicidade de como nos fomos conhecendo, eu e tu, que não vais saber quem és... da simplicidade nunca antes testemunhada, porque comigo é sempre tudo tão agradavelmente complexo... Esqueci-me de colocar aspas entre agradavelmente? Que lapso da ironia...

Mas sabe bem, algo diferente para mais simples. Obrigada por me seres tão sincero e não quereres entrar em jogos. Para quê dificultar ainda mais o que parece ser tão difícil? Para quê prever o futuro e querer a garantia da eternidade?

Pois se a vida é tão mutável e eu sou sempre outro alguém em cada compasso do tempo?

 

Obrigada pelo momento. Por aqui e agora.

Obrigada por não me tomares como um investimento pendente possivelmente a realizar no futuro.

Obrigada por acreditares que o que sentes agora é o suficiente. E depois? Logo se vê. Mas tudo se constrói vivendo, e não racionalizando, que insultuoso!

Obrigada a ti por pensares assim, e acreditares na vida de modo tão romântico, tão simples.

Obrigada por me afastares da realidade por momentos, neste momento, sem receios das consequências futuras e sem receio do mundo real.

Obrigada por sonhares comigo.

É tão simples, não é?

Porque é que outros não o conseguem?

 

Eu quero um poema simples...

em que descrevo-te

em que descrevo-me

a ti, a mim, aos dois

aqui, agora

tiramos uma fotografia de nós

estamos num jardim

 

és tão meigo, doce e gentil

sorris-me um sorriso apaixonado

com os lábios retorcidos e enviesados

os teus olhos reluzem e estão ora ávidos, ora que prestes a adormecer.

Eu mostro-te um sorriso aberto e puxo-te o braço para continuarmos o percurso.

Uma distância entre nós que se encurta com o meu pensamento de ti

e o teu pensamento de mim.

Tempos que passaram e se fundem neste aqui e neste já.

Quando te puxo, prendes-me a ti com o teu outro braço

Será que deveria fugir? O que ganho? O que posso perder?

Espera... e o que ganho em pensar e o que perco em provar? Nada para ambas...

Será que devo perguntar-me 'Porquê?' ou antes, 'Porque não?'

 

Deixo-me ficar no teu enleio. Contemplamo-nos por infinitos segundos de uma dimensão temporal alheia e eterna.

Vejo o vulto da tua mão a aproximar-se e a ascender sobre o meu rosto, acariciando uma madeixa do meu cabelo. Estou constrangida, receosa, palpitante. Mas sobretudo sei que estou a sentir-me mais viva do que me lembro faz tempo.

Como dói viver, como é incómodo sentir. Parece ser, quando não devia, tão confortável quando permanecemos na clausura inebriante que (não) nos protege do mundo real que podemos sofrer. Mas será que custa assim tanto entregarmo-nos?

 

Roças ao de leve a palma da tua mão na minha face, tomando-a depois nas tuas mãos.

Pareces querer-me levitar quando me ergues o rosto para junto do teu. Será que vou ficar sem chão e sem pé se me deixar levantar?

Que se dane. Beijas-me.

 

O Sol vai baixando a guarda.

Em nós escurece e a luz escasseia.

O ar muda e enregelece.

Nos teus olhos permanece o brilho para que te possa encontrar

e indagar se sempre estarás aqui.

 

Não falo de estares comigo ou me teres no colo como aqui, agora.

O mundo transforma-se e eu vou com ele, e moldo-me à intensidade e percursos do vento.

Eu sei que poderei não estar aqui contigo agora, a não ser agora e aqui mesmo. Neste momento, eu te sou.

Mas uma coisa eu sei de sempre e para sempre, e questiono-me se serás assim também: é que nunca te esquecerei.

Eu posso nunca mais te ser, mas irás estar nem que nos mais recônditos abrigos do meu nostálgico pensamento.

Não preciso que te mantenhas apaixonado por este presente que deixará de ser, mas tão somente gostaria de saber se amarás esta memória, bem guardada num pedaço esquecido e prezado de nós.

 

Pois com esta aragem fria que se põe e que me leva daqui, eu sei que não tenho um rumo parado e certo, eu sei que vou vaguear, divagar, devanear por outros mundos e outras almas.

Mas este pôr-do-sol não me permite esquecer jamais o calor que tanto aquece todas estas entranhas de mim e a veia mais escondida, todo este sangue quente que agora me acelera o corpo, que me faz esvair em êxtase...

 

jamais esqueceria o calor do teu amor,

nem que tivesse durado somente um sopro de vento ou um feixe de luz.

 

06/03/09

02H00

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publicado por Strelitzia5 às 12:42
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Sábado, 7 de Fevereiro de 2009

«coffee.»

 

Em tempos que via o teu rosto esbelto e ofuscante, o meu peito falhava uma batida

e sentia-me sufocar por um infinito segundo.

Fazias tanto mal ao meu corpo e eu sentia-me tão bem.

Ver-te era a quintessência deste e de todos os mundos.

Não sei se posso dizer que ver alguém, mesmo outros que também amei, me fez alguma vez sentir aquilo que tu me fazias sentir, quando te via.

Foste quem despertou sentidos nunca antes acordados, levaste-me aos picos mais altos da euforia e do êxtase.

E como sempre, nunca fomos nós, nunca me pudeste ser.

 

Uma vida inteira que passou... e o nosso destino volta a cruzar-se. És livre agora.

E juntamo-nos. E vejo-te... e tudo se foi.

E tento sentir-me como antes, mas não sei para que recanto do mundo fugiu o amor que te tinha. Deve ter havido uma morte qualquer quando partiste de mim.

Alguma revolta moribunda anestesiou o recôndito do meu ser que te guardava. Inviabilizaram-se todas as sensações.

 

A vida é tão cruel... Nunca te dá os teus tesouros quando os consegues valorizar e vem só muito mais tarde pagar-te a dívida em atraso, quando nada daquilo é agora o que precisas. Parece que a vida goza contigo..

 

Encontro e releio toda a vida que te escrevi. Cada palavra tua, cada frase que descrevia o que vivíamos, cada texto dos nossos dias, cada obra do que me fazias sentir.

Tentei em desespero que aquelas palavras sofregamente escritas com puro amor, me fizessem lembrar o tanto que senti..

Eu consegui perceber a imensidão de tudo, mas como se tratasse da personagem de um livro. Li todas aquelas palavras e não me lembrava daquele amor, não conseguia acreditar que fui eu que amei assim.

Aquele amor escrito naquelas páginas simplesmente não se queria transpor em mim...

 

A vida é ironicamente cruel e ainda assim não consigo deixar de achá-la singelamente bela, e achar-lhe piada...

Tanto que nos tira, tão pouco que nos dá...mas esse pouco é tão-só o que nos basta para continuarmos aqui suspeitando os castigos que nos reserva... porque nos surpreende sempre em cada esquina do tempo...

 

Tentei ressuscitar o amor, mas em vão.

Beijar-te teria sido a felicidade, e agora que o faço, já não sinto o que procurava.

Todas as palavras somente me lembraram de todo o carinho que eternamente terei por ti.

Ouvir-te-ia a vida inteira como se fosses a minha voz. Estarei sempre a teu lado quando me quiseres contar as tuas histórias. Mas já não consigo partilhar uma nova história contigo.

 

Gosto mesmo tanto de ti .... mas já não te tenho paixão.

Amo-te, mas não estou apaixonada por ti.

 

Tudo tem um tempo cruelmente certo para acontecer... e se algo mata uma ínfima parcela do sentir, tudo se perde para sempre, ficando somente uma transformação não sei do quê, híbrida e frustrada.

 

Quero saber-te e como vai a tua vida, quererei saber sempre de ti, nunca me voltes a fugir outra vez, não sei o que uma nova morte provocaria.

Poderás partir para longe ou um outro mundo distante daqui, regressar para trás ou seguir em frente, estarás sempre de algum modo no meu pensamento e encostadinho num cantinho especial do meu coração.

Desejo-te tudo o que queiras do mundo.

Dar-te-ei de mim tudo o que te possa dar e queiras.

 

Seja o que for de nós, seja o que há entre nós, para sempre indefinido

e sublime e original,

um olá para sempre,

e um até amanhã como tiver que ser.

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publicado por Strelitzia5 às 19:18
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«Nostra Lisbonna»

 

As almas todas que houve em mim

As almas tantas com que já me cruzei

Tanto que eu já amei

E o pouco que senti do amor. Pouco ou nada.

 

Caíste do céu a meus pés, inadvertido e insuperável.

E revolucionaste o modo como amava.

Fizeste-me sentir que tudo era novo, fresco e finalmente certo.

O primeiro e o último.

 

Deste-me, ainda que pouco, o que mais ninguém até então havia dado,

fizeste com que sentisse tudo o que é suposto sentir,

sem qualquer lacuna, todos os ingredientes da poção.

 

Tanto que... e nada. Deixaste-me completamente ao

relento cortante e incerto e paraste o teu percurso

a meio da aventura, sem me avisar para também parar de correr.

 

Nunca te deste mais do que o que o teu egoísmo permitia

e quiseste tudo de mim.

 

Será difícil depois de ti, eu sei. Fazer com que pareça que tudo pode surgir

novamente inovador e original. Mas eu sei que não será impossível,

pois não sou como tu. Abraço a vida de uma maneira que te transcende

e tudo o que acontece apenas me enriquece, ao invés de ti que te paralisa.

 

Estás irreparavelmente danificado e eu não quero mais afundar-me contigo.

Renasci vezes demais nesta vida para morrer por ti ou seja por quem for.

 

Liberto-te. Nós nunca poderemos ser.

Não me ames que não serve de nada a ninguém, nem mesmo a mim.

Se não é para me dares esse amor e para o partilhares com o meu,

para que te serve guardar esse amor?

Deita-o fora que ele é inútil e nefasto.

 

Liberto-te. E liberto-me de ti. Já chega de ti. Não quero mais isto. Não preciso mais de ti. Já quase não penso em ti. Esqueço-me agora do que me és...

 

Foi bom conhecer-te e espero encontrar-te um outro tu na outra vida, um que esteja pronto a viver, e não já irremediavelmente morto e decomposto.

 

Amo-te. Adeus.

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publicado por Strelitzia5 às 18:57
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Sábado, 15 de Novembro de 2008

"uno mim"


há muito que não escrevo qualquer coisa
há muito que deixei de pensar
para não doer
o tempo corre e voa e transcende-me e trespassa-me
e rompe-me qualquer entranha de força que reste


já não sou eu, a mesma que eu era, aquela que eu fui


nao há tempo... para nada. para conseguir viver
há tempo a mais... para não pensar, para não viver, para deixar ir


já não sou a mesma.

algo me prende. algo me retém. e já não sou eu. já ninguém me pode culpar


há muito que não escrevo qualquer coisa
há muito que preferia não sentir, dói sentir, dói saber que sinto muito,

dói saber que de nada me serve sentir, dói saber que escondo a dor, dói

saber que ignoro a dor, dói saber que não aprendo, dói saber que não me

importo que volte a doer, que doa ainda mais, dói doer, doer assim,

porque quero, porque não quero, porque não consigo evitar, porque só me

acontece doer, e nada mais.


lembro-me de quem fui...passado distante e enterrado em mim algures

sedimentado entre camadas dos vários eus. sinto falta da inocência de não

saber e ter ainda coisas por descobrir
sinto as dores repetidamente repetidas, gastas, saturadas, iguais e

sempre as mesmas. e as novas, ou as mesmas mas inovadas, antes que me

paralisassem, me anestesiassem. novas caras, novos mundos, novos lugares,

novas pessoas, novos eus. mas eu sou a mesma...

igualmente repetida e gasta e saturada em cada dor, de cada dor. de cada sentir velho, de cada sentir novo.

e ainda falta o que aí há-de vir... muito mais cansaço,

muito mais tempo passado, que se há-de tornar poeira, e uma memória doce

e distante, que há-de doer. nada permanece. nada permance em mim, nem

comigo. tudo me foi, tudo me foge, tudo me trai e me abandona ou

cortesmente ainda me diz adeus.

nunca sou a mesma, serei sempre aquela que sobreviveu a não sei o quê, porque há-de haver sempre qualquer coisa a que sobreviver, e serei sempre aquela nova cara, renascida e

metamorfoseada numa outra entidade, um elfo a viver uma segunda Era, uma

fénix a viver novo ciclo, em chama viva e sempre ardente, sacudindo as

cinzas, encaixotando-as para um baú de recordações velhas e antigas

debaixo da cama, ou debaixo do mais profundo de mim de que já me esqueci.

 

15/11/08

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