Domingo, 21 de Setembro de 2008

dephts of me

 

 

Dói-me saber de ti. Dói-me saber ou imaginar o quanto te pode doer. Porque a mim dói-me igual, ou secalhar até muito menos, mas tenho medo que venha a doer como a ti. Porque a tua e a minha dor são a mesma.

Não sei quanto a ti, mas eu estou cansada. E já não consigo voltar a fazer o que numa vida passada já fiz mais que uma vez. Só de saber que o fazes, dói-me. Dói com força a perspectiva de todos os teus dias angustiados, que fazem lembrar os meus, magoa sem dó toda a ideia das tuas esperas e desesperas, que eu também já tive, que eu não consigo voltar a ter. Não posso, nunca mais. Mesmo que possa vir a perder mais do que o que poderia ganhar.

Esgotei esse meu poder de sacrifício. Já o fiz, e já não consigo mais. Já não tenho essa força em mim, esse tipo de perfeição, esse tipo de nobreza.

Já sofri o suficiente para me impor o direito a certos egoísmos, protecções, defesas e armaduras. Não posso sofrer mais, acredita-me, ou seria fatal.

Não sei como o consegues, sem morrer todos os dias mais um pouco. Não sei como o consegues, mas eu sei que não consigo, não posso, não quero.

Por muito que as pessoas sejam o mais dignas de tudo o que se aguenta, parece-me algo que não é nada justo. Talvez até seja inevitável e incontrolável, mas a bem ou a mal, sempre me consegui disciplinar na medida do possível. Não gosto de me sentir assim, não consigo viver assim. Preciso sentir o oxigénio invadir os meus pulmões, preciso sentir-me respirar, não consigo viver nesse tipo de sufoco ou de inspirações emprestadas. Pareces ter que pagar uma fortuna por um segundo mínimo que seja de paz de espírito, conforto e leveza.

Eu não consigo sentir-me bem, quando algo em mim não está bem.

Eu quero e mereço algo que venha até mim que nem dádiva ou doação divina, não quero ter que lutar nem debater-me, estou tão cansada.. quero algo que seja só meu e que não tenha quaisquer dúvidas de querer pertencer-me, sem qualquer esforço ou dor. Quero que as coisas me sejam por direito, me sejam simples e naturais, espontâneas, e não sofridas e racionalizadas.

Por muito que até não me importasse, não consigo esperar, não consigo abraçar assim de modo tão harmonioso o tempo. Eu não gosto do tempo, há muito que me chateei com ele. Ele nunca me garantiu nada do que fosse. Não voltarei jamais a confiar nele. Confio na força do momento presente, do carpe diem, e se não posso ter o momento presente, não farei nenhum pacto do diabo com o tempo, pois não confio nele. Prefiro acabar-me por aqui, com as feridas que já me bastam agora, do que esperar por caminhar num mato espigoso e numa floresta escura, cega e sem ver, sem retorno são, esvaída em sangue.

Tenho saudades do equilíbrio que finalmente havia conquistado, tenho saudades da minha concentração em mim e só em mim e no meu percurso idealizado para mim. Preciso estar lúcida e sã para que possa continuar o meu caminho solitário sem mais desvios. Terei que seguir sozinha, pois já fiz as pazes com o meu fado, eu sei que isso do amor, não o poderei sentir e nunca será para mim.

 

21-09-08

 

música: Gravity - Sara Bareilles
sinto-me: in need of true warmth

publicado por Strelitzia5 às 19:08
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Sexta-feira, 12 de Setembro de 2008

Que devaneio de Crónica...

 

Era uma vez uma rapariga que queria mandar uma mensagem, mas não sabia o que escrever. Ou melhor, teclar.
Era uma vez uma criança pequena que se apaixonou. Será?
Era uma vez uma senhora para quem o amor ficou enferrujado e cansado. E perdeu a piada.
Era uma vez uma rapariga a quem isto aconteceu, sem antes sequer ter sabido o que era isso do amor. Isso é perigoso.
Era uma vez um homem, um rapaz. Era uma vez todos os homens, um pouco tolos por quererem perceber estas mulheres de quem gostam, isto é, aqueles que ainda gostam. Dessas mulheres.
Essas mulheres de quem vale a pena gostar, e ao mesmo tempo, não.
 
A rapariga a quem aconteceu o mesmo que à senhora é a mesma que quer escrever uma mensagem. Se calhar, ainda há qualquer coisa que resta. Ainda que não seja a curiosidade de sentir algo que ainda não sentiu, mesmo que já nisso não acredite.
 
A criança pequena está a apaixonar-se. A descobrir estas coisas do amor pela primeira vez. Mas a rapariga olha contente para ela, e ainda pensa: «Não parece tão entusiasmada como eu era na idade dela». Parece que são outros tempos.
 
Ou então a criança pequena esteja já a acompanhar os tempos. Já não há nada com que se pareça às cartas de amor e às serenatas à janela. E ainda bem. Será que isso nos garantia fosse o que fosse?
 
A senhora diz agora, que não. Depois disso…
Mas esta senhora, é um pouco um caso aparte. Ela cansa-se de muitas coisas. Cansa-se muito. Tosse muito para saberem que está frágil e cansada.
 
Será preciso continuar com algumas tradições, sendo que tantas outras se romperam?
Eu acho que os clichés só empobrecem a realidade.
 
Mas no meio disto tudo.. continua o tão mal-dito do homem. Que quando gosta, lá isso gosta. E não se cansa.
E vai à cozinha buscar uma colher de xarope para dar à senhora, que a tenta levantar da cama quando ela quer hibernar todo o dia, que gosta muito da rapariga e da criança pequena.
 
A rapariga vê tudo isto, e como tem uns olhos muito observadores e ávidos, entristece-se. E começa a tornar-se a senhora, ainda que não queira. E sempre que descobre homens assim, fica desconfiada, ou com medo. Ou com medo de o vir mais tarde a magoar, deixando de gostar dele, e ele que gosta tanto dela, ou virá a gostar. Ou assim parece, agora. Agora não dá para saber. Mas as mulheres gostam de imaginar, perspectivar daqui a quilómetros e séculos. Tanto tempo e tanto espaço… que elas precisam. Nos dias de hoje, tanto tempo e tanto espaço que elas querem, só para elas. Para estarem… sozinhas.
Porquê?
Parece que os tempos mudaram.
 
Conheci três senhoras.
Uma delas, toda a vida procurou um homem. E casou. E depois deixou de ser egoísta e a sua vida deixou de ser somente uma questão sobre ela e o seu homem. Quis ter filhos com esse homem. E foi feliz, diz ela. Todos os dias. Não durante todo o dia, todos os dias. Mas em todos os dias, um pouco que fosse. Será pouco?
A segunda nunca pensou em arranjar um homem. Formou-se. Nunca pensou em filhos. Era muito púdica. Um dia casou-se com o melhor amigo e tornou-se a melhor amiga do filho que teve com esse homem. Separaram-se. E mais tarde, juntaram-se outra vez.
O que nos leva à terceira senhora. Ela sempre procurou alguém muito especial. Apaixonava-se muito, desiludia-se muito. Muito muito. Cansava-se muito, também. Mas continuava a acreditar muito. Ficou rica. Saía muito com as amigas. Divertia-se muito. Tornou-se muito alegre e muito bonita. Gostava muito de namoriscar. Muitos homens, muitos meninos. De os arrebatar. E depois, de jogar com eles. Cartar, descartar. Próxima mão, próxima rodada. E depois perdia algumas cartas do baralho de propósito, como também muitos homens a perderam, e a quiseram perder. De propósito.
Há quem diga que nisto do amor… amor com amor se paga.
Esta senhora é mais especial, mais diferente. Pelo menos assim se foi tornando.
No fim da sua jornada, um dos seus muitos homens quis amá-la, a sério, e para sempre. Ela assustou-se. Não sabia o que fazer com o amor dele. Para que servia? Sufocava-a, prendi-a. E a vida que ela quer tanto viver? Tantos sacrifícios… é uma vida tão curta…
Será que ela desperdiçou o amor que era capaz de dar às pessoas que eram o que ela agora é?
Será que ela não quer dessas amarras tão fortes, será que tem outros conceitos? Os tempos deviam ser outros..
 
Talvez ela seja egoísta. Ou descrente. Ou parou de amadurecer. Ou captou todo o sentido, e ficou mais sábia..
Talvez ela não precise disso para ser feliz.
 
Não nos detenhamos mais com esta senhora. Ela é difícil de explicar, difícil de entender. Não encaixa em rótulos. E algumas coisas não são para se falar ou tentar perceber. Ai, os mistérios..
 
E tudo isto… incluindo este texto… continua a ser um mistério…
Daqueles…
Excruciantes!...
 
Ainda bem que não as temos.
Mas como se sofre!, por não termos quaisquer respostas.
 
 
20.07.08

publicado por Strelitzia5 às 23:12
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